Após terceira alta consecutiva, taxa Selic vai a 4,25%
Copom muda estratégia e agora prevê retirar todo o estímulo monetário até o fim deste ano
Por Estevão Taiar e Alex Ribeiro
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou ontem a taxa básica de juros de 3,5% ao ano para 4,25% ao ano. A magnitude do aumento veio em linha com o esperado por agentes de mercado, mas o colegiado do Banco Central (BC) abandonou a estratégia de uma política monetária estimulativa da economia, a chamada “normalização parcial”. Agora, afirmou considerar “apropriado”, neste momento, retirar todo o estímulo até o fim do ano.
Para o próximo encontro, marcado para os dias 3 e 4 de agosto, o comitê projetou nova alta de 0,75 ponto. Porém, não descartou uma elevação “mais tempestiva” em caso de piora das expectativas inflacionárias. “Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro”, disse em comunicado após a decisão, tomada de forma unânime. O diretor de política econômica do BC, Fabio Kanczuk, já afirmou que a taxa de juros neutra – aquela que não acelera e nem desacelera a inflação – está em 6,5% ao ano em termos nominais.
Até a reunião anterior, o Copom vinha afirmando que considerava adequada uma “normalização parcial” da Selic. Ou seja: com a taxa básica encerrando o ciclo de altas abaixo do patamar neutro.
Segundo o colegiado, o ajuste a um patamar neutro “é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação”. Mas o Copom enfatizou que, “novamente, que não há compromisso com essa posição”.
“Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”, disse.
A decisão veio horas de pois de o Federal Reserve, banco central americano, ter sinalizado um aperto monetário mais rápido do que previa anteriormente.
Em seu cenário básico, o Copom reconheceu que a persistência da pressão inflacionária está “maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais”. Apesar da “recente apreciação” do real, alguns fatores têm pressionado a trajetória de preços, como: normalização lenta das condições de oferta; “resiliência” da demanda; “deterioração do cenário hídrico” e consequentes impactos sobre as tarifas de energia.
“O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos”, disse.
Para agosto, o Copom “antevê” novo ajuste de 0,75 ponto percentual. Mas não se comprometeu de forma definitiva com esse cenário.
“Uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários”, disse, destacando que essa avaliação também dependerá de fatores como desempenho da atividade econômica, balanço de riscos e “como esses fatores afetam as projeções de inflação”.
Já o balanço de riscos, em que o BC faz uma espécie de análise subjetiva da conjuntura para a inflação, segue com fatores atuando em ambas as direções. “Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico”, afirmou.
Em sentido oposto, mesmo com a “melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública”, o risco fiscal “elevado” segue colocando uma assimetria altista no balanço. Isso quer dizer que, na visão do BC, há mais chances de a inflação ficar acima do projetado do que abaixo.
A autoridade monetária também traçou um quadro mais favorável para a atividade econômica no Brasil. “Os riscos para a recuperação econômica reduziram-se significativamente”, disse no comunicado, lembrando que indicadores recentes surpreenderam e levaram a “revisões relevantes nas projeções de crescimento”.
No cenário básico apresentado, a projeção aponta para inflação no ano que vem de 3,5%, exatamente a meta. Para conduzir a Selic, a autoridade mira atualmente apenas a inflação de 2022.
Esse cenário pressupõe a Selic extraída da pesquisa Focus, terminando 2021 em 6,25% ao ano e 2022 em 6,5% ao ano. Já o câmbio começa em R$ 5,05, o valor médio dos cinco dias úteis da semana anterior à reunião, e evolui conforme a paridade do poder de compra (PCC). Nesse caso, as projeções para preços administrados estão em 9,7% em 2021 e 5,1% em 2022, com a bandeira tarifária em “vermelha patamar 1” no fim do ano.
Já as “diversas medidas de inflação subjacente”, mais sensíveis à Selic e à atividade, estão “acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta”. Na reunião anterior, estavam no topo do intervalo.
Sobre o exterior, o BC afirmou que estímulos fiscais e monetários em alguns países desenvolvidos já promovem uma recuperação robusta da atividade. “Contudo, a incerteza segue elevada e uma nova rodada de questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nessas economias pode tornar o ambiente desafiador para países emergentes.”
fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/06/17/apos-terceira-alta-consecutiva-taxa-selic-vai-a-425.ghtml acesso em 17/06/2021.