Cenário eleitoral garante giro recorde no ano de R$ 22,4 bilhões na Bolsa
Dólar tem segundo dia consecutivo de desvaloirzação e fecha abaixo de R$ 3,90
Pelo segundo dia consecutivo, a euforia do mercado financeiro com as recentes pesquisas eleitorais garantiu mais um pregão de ganhos na Bolsa de Valores e nova desvalorização do dólar frente ao real. Os investidores movimentaram o volume recorde de R$ 22,4 bilhões entre compras e vendas de ações, o maior valor registrado em um único dia neste ano e o mais alto desde que o escândalo da JBS veio à tona, em maio de 2017.
O dólar comercial encerrou o dia com desvalorização de 1,16% ante o real, negociado a R$ 3,88, a menor cotação desde 14 de agosto. Pela manhã, a moeda americana chegou a cair abaixo de R$ 3,85. O movimento no mercado local foi na contramão do exterior, onde o dólar spot, índice que acompanha o desempenho da divisa frente a uma cesta de moedas, subia 0,29% no encerramento dos negócios no Brasil.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, subiu 2,04%, aos 83.273 pontos, maior patamar desde 17 de maio passado, quando fechou a 83.622 pontos. Na máxima do dia, o índice se valorizou 4,69% a 85.441 pontos. O giro financeiro do dia ficou bem acima da média das últimas semanas, quando a movimentação ficou entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões. A última vez que o giro financeiro da Bolsa superou a casa dos R$ 22 bilhões foi em 18 de maio do ano passado, um dia após a divulgação do escândalo da JBS. Naquela data, o movimento atingiu R$ 22,7 bilhões.
Nos números do Datafolha, divulgados na noite desta terça , o candidato Jair Bolsonaro (PSL) avançou de 28% para 32% das intenções de voto, enquanto Fernando Haddad (PT) oscilou de 22% para 21%. Pesquisa do Ibope, divulgada na segunda, já tinha mostrado Bolsonaro na liderança. Os agentes do mercado financeiro embarcaram nesta onda de otimismo porque avaliam Bolsonaro como o candidato mais alinhado a uma agenda de reformas econômicas defendida pelos investidores, como a da Previdência e Tributária.
Em relatório a clientes, o economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon, disse que as taxas de rejeição dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas serão fundamentais para determinar que vencerá a disputa.
— Em um provável segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, as taxas de rejeição serão a chave para uma eleição altamente polarizada — escreveu o economista.
No segundo turno, num embate entre Haddad e Bolsonaro, há empate técnico, segundo a pesquisa Datafolha. Bolsonaro teria 44% (na pesquisa anterior tinha 39%), enquanto Haddad caiu para 42%, vindo de 45%.
O mercado aguarda a divulgação de uma nova pesquisa Ibope para hoje.
Para o economista Sergio Vale, da MB Associados, o mercado “comprou” o cenário de que aumentaram as chances de Bolsonaro ganhar a eleição, gerando essa onda de otimismo. Para Vale, embora o projeto do assessor econômico do candidato do PSL, Paulo Guedes, seja mais pró-mercado, os investidores ignoram detalhes importantes como viabilidade política de colocá-lo em prática e as propostas em si.
—A chance de não dar certo é enorme, mas o mercado não dá muito atenção a isso. O que importa é que alguém ganhe do candidato do PT, mesmo sendo o Bolsonaro. Na visão do mercado, com Haddad há a certeza de termos problemas na economia. Com Bolsonaro, há chance de um projeto mais liberal passar. Enquanto essa percepção permanecer, veremos o câmbio em baixa e a Bolsa em alta — analisou Vale.
O economista sênior do banco MUFG Brasil, de capital japonês, Carlos Pedroso, observa que os investidores diminuíram em US$ 10 bilhões suas posições compradas em câmbio (swaps, cupom e contratos futuros) – de US$ 40 bilhões para US$ 30 bilhões – do início de setembro até agora. Para ele, este é um sinal de que o mercado avalia que o cenário eleitoral que está desenhando é de menor risco.
—Essa desmontagem de posições compradas em câmbio, mais defensivas, e um fluxo de recursos externos entrando na Bolsa ajudam a derrubar a cotação do dólar. O atual cenário eleitoral está sendo avaliado pelo mercado como de menor risco para o andamento de reformas para o país — disse Pedroso.
Operadores notaram um movimento mais forte de investidores estrangeiros comprando ações de empresas brasileiras nos últimos dois dias. Também observaram uma mudança de estratégia dos fundos de investimento locais, que estavam em compasso de espera até as últimas pesquisas e agora voltaram a comprar.
— Houve muitos investidores estrangeiros aumentando sua posição em ações de empresas brasileiras, aproveitando o preço mais baixo e um cenário eleitoral menos favorável ao PT. Mas os fundos de investimento locais, que estavam em compasso de espera, começaram a mudar sua estratégia após o resultado das pesquisas e voltam a comprar – ou pelo menos a não vender principalmente papéis de estatais — avalia Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.
As ações do chamado “kit eleição”, papeis de estatais e de setores regulados pelo governo, como o elétrico, voltaram a puxar o Ibovespa nesta quarta. A maior alta foi registrada pelas ações ordinárias do Banco do Brasil, com ganho de 8,59% a R$ 34,13. Os papéis preferenciais da Eletrobras, estatal de energia, apresentaram a terceira maior alta do índice e avançaram 7,42%, vendidos a R$ 21,00. As ações preferenciais da Petrobras subiram 3,98% a R$ 23,73, enquanto as ordinárias avançaram 2,20% a R$ 26,38.
— A aposta do mercado é que com uma possível vitória do candidato de direita haja menos interferência política nas estatais. Por isso, os papeis dessas empresas subiram – diz Monteiro, da Renascença.
As ações de bancos, que têm peso significativo no Ibovespa, também tiveram mais um dia positivo. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco avançaram 4,08% a R$ 47,15, enquanto os preferenciais do Bradesco ganharam 4,10% a R$ 31,23.
O estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, relativiza essa chamada “euforia na Bolsa” causada pelo fator Bolsonaro. Ele observa que, independente do cenário político, há uma combinação de fatores econômicos no exterior que cria essa onda altista na Bolsa brasileira. Primeiro, diz ele, o preço das ações no Brasil estava muito defasado, até o final de agosto, com um cenário intenacional desfavorável a países emergentes, com a crise da Turquia e da Argentina. Além disso, havia a expectativa de uma alta mais forte dos juros nos EUA, fortalecendo o dólar, e a guerra comercial entre os americanos e a China era foco de preocupações. Esse cenário mudou recentemente, explica Miranda, o que favorece a busca pelo risco.
BOLSAS NO EXTERIOR EM ALTA
No exterior, os investidores acompanharam a divulgação de indicadores da atividade de serviços em setembro. No Japão, o indicador caiu para 50,2 pontos, na Alemanha subiu para 55,9 pontos e na zona do euro chegou a 54,7 pontos. No Reino Unido, caiu para 53,9 pontos. Indicadores acima de 50 pontos mostram aceleração da atividade e, por isso, as principais bolsas europeias fecharam em alta, com exceção da Bolsa alemã.
Na zona do euro, as vendas no varejo de agosto tiveram contração de 0,2%, quando a previsão era de expansão de 0,2%.
Nos EUA, o presidente Donald Trump seguiu elogiando o acordo comercial fechado com o México e Canadá e que pode servir de diretriz para negociações com outros países. Os principais índices americanos também fecharam em alta.
Fonte: oGlobo.globo.com
Link: https://oglobo.globo.com/economia/cenario-eleitoral-garante-giro-recorde-no-ano-de-224-bilhoes-na-bolsa-23122900. Acessado em: 04 Out. 2018, 09:20:30.