Credit Suisse vê expansão do PIB de 2,5% em 2020
Consumo das famílias e investimentos vão liderar expansão da economia no ano que vem, avalia o banco
Por Sergio Lamucci
A economia brasileira deverá crescer 1,2% neste ano e 2,5% no ano que vem, numa trajetória liderada pelo consumo das famílias e pelo investimento privado, diz o economista-chefe do Credit Suisse, Leonardo Fonseca. Divulgada na terça-feira, a expansão de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, dá mais conforto para o banco em sua projeção de um avanço mais forte para a economia no que vem, segundo ele. “Já se
começa a ver o consumo e o investimento reagindo”, diz Fonseca. Ele observa que, se confirmada a estimativa de um crescimento de 2,5% em 2020, será o melhor desempenho da economia desde 2013. Para 2021, o banco projeta avanço de 2,7%.
O economista destaca o cenário favorável para o consumo das famílias, mencionando primeiro o aumento do crédito, num quadro marcado pela queda expressiva dos juros. Está em curso uma expansão mais forte de empréstimos e financiamentos para pessoas físicas, diz ele. Além disso, o mercado de trabalho se recupera, com sinais de maior criação de vagas no setor formal nos últimos meses.
Com o crédito em expansão e a e a melhora do mercado de crédito, o consumo privado deve crescer 3% no ano que vem, avalia ele, que vê um ritmo de 2,1% neste ano. Além disso, um fator temporário vai ajudar a demanda das famílias, especialmente no quarto trimestre de 2019 – a liberação de R$ 42 bilhões de recursos das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Isso deve fazer o PIB dos três últimos meses deste ano acelerar e crescer algo como 0,8% a 0,9% em relação ao trimestre anterior, calcula o economista do Credit Suisse. Essa injeção de dinheiro na economia brasileira faz com que Fonseca fique confortável com a sua projeção de crescimento de 1,2% para este ano.
As perspectivas para o investimento também são positivas, afirma o economista, que fará hoje a tradicional apresentação de fim de ano das projeções do banco para os clientes. O quadro de crédito em expansão e juros mais baixos também favorece as decisões das empresas de investir na modernização e expansão da capacidade produtiva, segundo ele. Outro ponto importante é a redução das incertezas domésticas – a aprovação da reforma da Previdência, por exemplo, melhorou a percepção sobre a sustentabilidade das contas públicas. Além disso, o governo mostra disposição de aprovar medidas para prosseguir com o ajuste fiscal e cumprir o teto de gastos. “A redução da incerteza fiscal reduz a incerteza sobre o crescimento futuro”, resume Fonseca, citando ainda a melhora das condições financeiras, devido à combinação de menor aversão ao risco, juros mais baixos, expansão do crédito e alta do mercado de ações.
Tudo isso forma um quadro mais favorável para o investimento privado, diz Fonseca, observando que não virá do setor público o impulso para a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil, máquinas e equipamentos e inovação), dado o quadro de restrição fiscal de União, Estados e municípios, observa ele. Já o cenário externo, marcado por incertezas sobre desaceleração da economia global, num ambiente de guerra comercial entre EUA e China, é um fator que joga contra o investimento. Nas contas do Credit Suisse, a formação bruta de capital fixo vai avançar 3,6% neste ano e 5,8% no ano que vem, chegando a 6,5% em 2021. São números positivos, mas não muito fortes, diz Fonseca. Em recuperações de crises anteriores, o investimento crescia a taxas muito maiores, superior a dois dígitos.
Em resumo, o PIB mais forte será puxado pela demanda doméstica privada, diz ele. O governo e as estatais não têm espaço para aumentar gastos, e o setor externo não deverá colaborar com o crescimento, num momento de menor expansão da economia global.
A desaceleração da atividade mundial, aliás, é apontada pelo Credit Suisse como o principal risco para a dinâmica da economia global nos próximos anos. O desempenho dos principais parceiros comerciais do país, casos de EUA, China e União Europeia (UE), pode afetar o Brasil por dois canais, aponta o banco: a redução das exportações e a piora das condições financeiras internacionais.
Do ponto de vista doméstico, o maior risco é a agenda de reformas fiscais e a de produtividade do governo não caminharem no Congresso, segundo Fonseca. O cenário-base do banco, porém, é que essas medidas continuarão a avançar, ainda que o calendário para elas tramitarem no Parlamento no ano que vem seja mais curto, por causa das eleições municipais.
Fonseca enfatiza a importância da aprovação da reforma da Previdência neste ano e da expectativa de que a agenda fiscal siga em curso para os cenários fiscais dos próximos anos. Com esse pano de fundo e a perspectiva de que os juros fiquem mais baixos por mais tempo, as projeções para a trajetória da dívida bruta melhoraram significativamente. Hoje, ele espera que o indicador atinja um nível um pouco superior a 80% do PIB, começando a se estabilizar em 2024. Há um ano, a expectativa era de que o endividamento bruto, que deve terminar 2019 em 78% do PIB, continuasse em alta até atingir a casa de 90% do PIB.
Com esse quadro fiscal mais favorável e a continuidade da agenda de reformas, Fonseca vê um ambiente para os próximos anos de inflação e juros baixos e crescimento mais forte. Para ele, os juros básicos, hoje em 5% ao ano, vão cair para 4,5% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem, ficando nesse nível até o fim de 2020. O Credit Suisse projeta um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,7% neste ano e 3,9% no que vem, nos dois casos abaixo das metas perseguidas pelo Banco Central (BC), de 4,25% em 2019 e 4% em 2020.
O câmbio mais pressionado e a alta forte dos preços das carnes são fatores de risco à inflação, mas a expectativa do banco é que isso não jogue o IPCA acima da trajetória das metas, num quadro de ociosidade ainda bastante elevada.
Na visão de Fonseca, o câmbio deve continuar na casa de R$ 4,20 ao longo dos próximos anos. Os juros mais baixos levam a um real mais desvalorizado, assim como os déficits maiores na conta-corrente, que ele estima em 3,2% do PIB neste ano e 3,3% do PIB em 2020 e em 2021. Para Fonseca, esse resultado pior nas transações de bens, serviços e rendas do país com o exterior, apontado numa revisão anunciada pelo BC no mês passado, indica uma fotografia pior das contas externas do que se pensava anteriormente, mas não há motivo para alarme. O Brasil ainda tem reservas elevadas e o volume de investimentos estrangeiros diretos cobre com alguma folga o déficit em conta-corrente.
Fonte: https://valor.globo.com/
Link: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/12/05/credit-suisse-ve-expansao-do-pib-de-25-em-2020.ghtml. Acessado em: 05 Dezembro 2019, 08:01:52.