Crédito cresce para famílias, mas recua para empresas
Concessões para pessoa jurídica mantêm desaceleração
Por Estevão Taiar
As concessões diárias de crédito para pessoas físicas cresceram na casa dos dois dígitos em outubro, na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto no caso das pessoas jurídicas o movimento foi inverso, com queda dos empréstimos. Os dados foram levantados pelo Valor em documentos enviados pelo Banco Central (BC) à comissão mista do Congresso que acompanha as medidas de combate à crise econômica. Os números completos do mercado de crédito referentes a outubro serão divulgados pela autoridade monetária na sexta-feira.
Na comparação com outubro de 2019, a média diária das concessões para pessoas físicas teve alta de 16,39%, para R$ 2,17 bilhões – com expansão em duas das três linhas destacadas pelo BC nos documentos. No caso de pessoas jurídicas, houve recuo de 4,75%, para R$ 3,29 bilhões, com queda em duas das quatro linhas.
Para Isabela Tavares, economista da Tendências Consultoria, os números mostram uma continuidade do quadro que vinha se desenhando nos últimos meses, com um aumento da demanda das pessoas físicas por crédito. Ela destaca que as concessões para a compra de veículos, por exemplo, já estão acima do nível pré-crise – só no mês passado, a alta foi de 15,03%, na comparação com outubro de 2019.
Já os empréstimos para empresas vêm mostrando “uma certa desaceleração”. Isabela chama a atenção para o desempenho do capital de giro, com recuo de 16,3% das concessões em relação ao mesmo mês do ano passado.
“É uma modalidade que teve uma grande demanda no início da pandemia, mas, com a gradual normalização das atividades, isso tende a diminuir”, afirma.
Ela também lembra que, no começo da crise, as grandes empresas em boa parte deixaram o mercado de capitais e recorreram aos empréstimos bancários. Agora, “à medida que diminuem as incertezas”, esse processo começa a ser revertido, “ainda que de forma bem gradual”.
No sentido oposto, os empréstimos para financiamento à exportação tiveram alta de 145,01% no mês passado. Economistas já vinham destacando em meses anteriores o desempenho positivo da linha, em função da desvalorização do câmbio neste ano.
Em relação a setembro, por sua vez, os números do BC mostram queda nos empréstimos tanto para famílias quanto para empresas: 2,57% e 18,05%. Isabel afirma, no entanto, que, por não serem dessazonalizados, os números podem não ser um retrato fiel da variação entre os dois meses.
O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, tem chamado a atenção positivamente nos últimos meses para o crescimento dos empréstimos no Brasil. Segundo ele, a expansão do crédito é um dos fatores que farão diferença na recuperação dos países após a crise econômica. Em evento na semana passada, Campos destacou a expansão de 16,6% do estoque de crédito no acumulado de 12 meses até setembro, sendo 26,5% para pessoas jurídicas e 8,7% para pessoas físicas.
No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro, o BC revisou para cima as suas projeções para o crescimento do estoque do crédito neste ano, de 5,8% para 7,8% no caso das pessoas físicas e de 10% para 16,5% no caso das pessoas jurídicas. Para 2021, as estimativas são de alta de 9% e 5,1%, respectivamente.
Fonte: valor.globo.com
Acessado em: 23Novembro 2020, 10:02:22.