Dólar cai pela 1ª vez em uma semana, a R$ 4,047; Bolsa salta 2,76%
Reaproximação entre Executivo e Legislativo e manutenção da nota do Brasil pela Fitch contribui para alívio nos mercados
RIO — O dólar caiu pela primeira vez em uma semana nesta terça-feira, e a Bolsa teve seu melhor pregão em mais de dois meses, com investidores enxergando avanços nas negociações entre Congresso e Executivo em prol da agenda de reformas, sobretudo a da Previdência. Um dos sinais é o aparente acordo entre o Executivo e o chamado “centrão” para a votação de medidas provisórias (MPs) que estão para caducar — como a do setor aéreo, que expira amanhã e cuja perspectiva de aprovação nesta terça fez com que os papéis de Gol e Azul disparassem. O dólar comercial fechou em baixa de 1,35%, cotado a R$ 4,047 para venda, enquanto a Bolsa saltou 2,76%, aos 94.484 pontos.
Também contribuiu para o movimento a alta das Bolsas no exterior, com o relaxamento temporário do cerco da Casa Branca à chinesa Huawei, e o fato de a agência de classificação de risco Fitch ter mantido a nota de crédito do Brasil no nível “BB-“, com perspectiva estável — embora tenha observado que “um fracasso completo do avanço da reforma da Previdência não pode ser descartado” e ter cortado sua projeção para o crescimento do PIB este ano.
— O mercado entendeu a manutenção da nota como um sinal de que a agência espera que a reforma seja aprovada, ainda que não no prazo estimado inicialmente — afirmou Julia Monteiro, analista da Um Investimentos.
Segundo ela, também ajudou no recuo do câmbio a intervenção do BC, pelo segundo dia seguido, no mercado de câmbio. Assim como ontem, o BC ofereceu US$ 1,25 bilhão em leilão de linha, operação que equivale à venda de dólares com compromisso de recompra no futuro.
Banco prevê recuo do dólar
Em relatório divulgado nesta terça-feira, o banco Commerzbank sustentou que o dólar provavelmente irá cair para R$ 3,60 até o fim do ano, argumentando que ainda há ímpeto para a aprovação da reforma da Previdência na segunda metade do ano.
“A opinião de que a reforma é necessária para colocar o país economicamente nos trilhos é provavelmente dominante entre os políticos”, escreveu a analista You-Na Park em relatório.
Embora a cena política doméstica siga exigindo cautela, os investidores seguem interpretando, assim como na véspera, que houve avanço nas negociações entre Congresso e Executivo em prol da reforma da Previdência. A percepção é que o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom em seus ataques contra o Congresso, que, por sua vez, vem demonstrando interesse em assumir o protagonismo da reforma da Previdência.
Na véspera, durante evento em Brasília, Bolsonaro disse que valoriza o parlamento brasileiro e disse que a palavra final sobre Previdência será dada pelo Congresso. Mais cedo, o presidente havia reforçado a necessidade da reforma, afirmando que, sem ela, em 2024 o governo não terá verba para custear sequer os salários dos funcionários da ativa.
— O maior entrosamento entre o ministro Paulo Guedes e os congressistas é um sinal positivo para o mercado — disse Flávio Byron, analista da Guelt Investimentos. — Os investidores não estão preocupados de quem é a a autoria da reforma, eles querem que o texto seja aprovado para que o potencial de investimento no país seja destravado.
Destaques da Bolsa
O setor bancário, de maior peso no Ibovespa, foi o que mais contribuiu para a alta do Ibovespa, índice de referência da Bolsa. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) do Banco do Brasil subiram 5,71%. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) do Bradesco e do Itaú Unibanco tiveram alta, respectivamente, de 4,12% e 3,84%. No caso da Petrobras, as ações ON subiram 2,6%, enquanto as PN avançaram 3,8%.
Uma das maiores altas, porém, foi da Gol, que subiu 6,95%, com a expectativa dos investidores de aprovação da MP que trata da abertura total do setor aéreo para capital estrangeiro. A rival Azul teve alta de 5,5%.
A CSN saltou 8% com a tendência de alta do preço do minério e a expectativa de reajuste do preço do aço.
Fora do Ibovespa, um dos destaques de alta é a Taurus Armas. Após a assinatura de um decreto pelo presidente Jair Bolsonaro que permite que cidadãos comuns comprem até fuzis , as ações da fabricante de armamentos dispararam 7,6%.
Na contramão estão os papéis de frigoríficos. As ações da JBS caíram 6,54%, enquanto a BRF teve perda de 5,6%. A Marfrig caiu 1,95%.
— Além de as empresas estarem vindo de uma alta grande e de serem prejudicadas pela queda do dólar na sessão de hoje, há também a questão da soja. Há uma expectativa de aumento de preço do produto, que é um insumo importante para a produção de proteína — afirmou Julia Monteiro, da Um Investimentos.
Lá fora, as ações sobem com o noticiário sobre a guerra comercial. O índice S&P 500 avançou 0,85%, com os investidores reagindo positivamente ao alívio temporário concedido por Washington a consumidores e operadoras que utilizam produtos e serviços da chinesa Huawei. O índice Dow Jones subiu 0,77%. Na Europa, a Bolsa de Londres registrou alta de 0,25%, enquanto Paris teve alta de 0,5%.
— O recuo por parte do presidente Donald Trump em relação às sanções contra a empresa chinesa Huawei ajudam a levar um pouco de otimismo par ao mercado como um todo — precisou Byron.
Fonte: www.oglobo.globo.com.br
Link: https://oglobo.globo.com/economia/dolar-cai-pela-1-vez-em-uma-semana-r-4047-bolsa-salta-276-23681363. Acessado em: 21 Maio. 2019, 10:10:25.