Dólar fecha em R$ 5,25, menor patamar desde setembro; Bolsa cai
Moeda americana é, novamente, beneficiada pela entrada de fluxo. Semana tem divulgação de dados de inflação e ata do Copom
Por Vitor da Costa
O dólar fechou em queda ante o real nesta segunda-feira, voltando para o patamar abaixo dos R$ 5,30. A moeda americana passou por um pregão de ajuste após o movimento de alta visto na sexta-feira com a divulgação de dados de emprego (payroll) nos Estados Unidos acima do esperado.
O desempenho mais fraco da divisa no exterior também ajudou o real.
No fim desta segunda-feira, o dólar fechou em baixa de 1,27%, negociada a R$ 5,2531. É a menor cotação de fechamento desde o pregão do dia 15 de setembro, quando a divisa terminou negociado a R$ 5,2360.
O Ibovespa, por sua vez, oscilou entre leves altas e baixas ao longo de todo o pregão. No fim do dia, o principal índice da B3 teve queda de 0,22%, aos 111.996 pontos.
Fluxo de capital estrangeiro para mercado brasileiro explica, diz analista
— Semana passada, o payroll veio forte e o dólar deu uma subida. Mas o fluxo para o nosso mercado continua grande, com a nossa Bolsa muito depreciada — disse o gerente comercial da B&T Câmbio, Felipe Steiman.
Até o pregão do dia 3 de fevereiro, o fluxo de recursos estrangeiros no mercado secundário da B3, aqueles com ações já listadas, estava positivo em R$ 36,37 bilhões. Em fevereiro, o saldo é positivo em R$ 3,88 bilhões.
Steiman ainda destaca que o diferencial de juros entre o Brasil, que começou a elevar suas taxas já no primeiro semestre do ano passado, e economias desenvolvidas e a valorização de commodities também ajudam o real.
O diferencial de juros em relação ao exterior é favorável à nossa moeda, pois permite que investidores tomem dinheiro em países com taxas mais baixas e invistam em outros com juro maior e, portanto, maior rentabilidade.
Dessa forma, ingressam dólares no país, aumentando a oferta da moeda americana e reduzindo o preço.
‘PEC Kamizaze’ no radar
O gerente comercial da B&T Câmbio não acredita que o fluxo de entrada visto em janeiro se repita nos próximos meses, mas destaca que o real ainda pode ter uma janela positiva.
— Manter essa força de fluxo para a é difícil, mas nossa Bolsa continua com ativos baratos. Temos que esperar alguns fatores como qual vai ser esse aumento de juros lá fora.
No front fiscal, os investidores seguiram monitorando novidades sobre as propostas para reduzir o preço dos combustíveis, com destaque para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada na semana passada e a chamada “PEC Kamikaze”, que circula no Senado.
O assunto vem gerando divergências entre intregrantes do governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda tenta convencer o presidente Jair Bolsonaro a desistir de patrocinar a PEC. Um dos argumentos de Guedes são as barreiras impostas pela legislação eleitoral.
Para Steiman, o debate sobre os combustíveis pode prejudicar o bom desempenho do real.
— O investidor estrangeiro quer uma previsibilidade. Quando começa mais uma conversa sobre uma possível PEC, isso pode impactar o mercado. Sem dúvida, essa confusão da PEC pode influenciar o dólar e atrapalhar os planos do governo de reduzir a inflação.
Juros futuros caem
Em linha com o mercado de câmbio, os juros futuros encerram o pregão com forte queda.
No fim do pregão regular, a taxa do contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 cedeu de 11,99% no ajuste anterior para 11,935%e a taxa do DI janeiro de 2024 passou de 11,47% para 11,355%.
Já do DI janeiro de 2025 caiu de 11,09% para 10,97% e a do DI janeiro de 2027 teve queda para 11,115% ante os 11,24% da leitura anterior.
Mercado eleva estimativa para IPCA
Em um dia de agenda esvaziada, os investidores repercutiram as novas estimativas para a economia brasileira contidas no Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC).
Segundo o Focus, a expectativa do mercado para a inflação ao final deste ano subiu pela quarta semana consecutiva.
A previsão passou de 5,38% para 5,44%, acima da meta do BC, que é de 5%. Para o término de 2023, a estimativa foi mantida em 3,50%.
No caso da Selic, as previsões mantiveram-se inalteradas em 11,75% ao término de 2022 e 8% no fim de 2023.
A expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu em 0,30% para o fim deste ano. Já para o fim de 2023, houve redução de 1,55% para 1,53%.
Semana tem ata do Copom e dados de inflação
Se a segunda-feira foi esvaziada, o mesmo não se pode falar sobre o restante da semana. Um dos focos dos investidores é a divulgação, nesta terça-feira, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Selic para 10,75% ao ano.
O mercado busca maiores sinalizações sobre quando ocorrerá o fim do ciclo de altas da taxa básica, após o Comitê deixar uma porta aberta em seu comunicado divulgado após a reunião.
Na semana, os balanços corporativos do quarto trimestre e a divulgação de dados de inflação tanto aqui como no mercado americano seguem no radar.
Ação da Oi despenca após Cade
Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) cederam 1,20% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 1,47%.
As ordinárias da Vale (VALE3) avançaram 2,44% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 3,15%.
As preferenciais da Usiminas (USIM5) subiram 3,25%.
No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e as do Bradesco (BBDC4) tiveram quedas de 0,55% e 0,35%, respectivamente.
Os papéis ON da Oi (OIB3) cederam 10,38%, os da Tim (TIMS3), 1,05%, e os da Telefônica Brasil (VIVT3), dona da Vivo, 1,23%. O movimento ocorre após o procurador Waldir Alves, representante do Ministério Público Federal (MPF) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), dar um parecer contrário à compra da Oi Móvel pelas empresas Tim, Telefônica e Claro, alegando “violações à concorrência”.
Na ponta negativa, também figuraram os papéis ordinários da NotreDameIntermédica (GNDI3) e da Hapvida (HAPV3), com quedas de 4,67% e 4,67%, respectivamente. O movimento ocorre com a proximidade da combinação de negócios entre as duas companhias.
BB Seguridade tem melhor resulrado trimestral desde IPO
Entre os balanços corporativos, destaque para os resultados do BB Seguridade. A holding de seguros, previdência privada e capitalização controlada pelo Banco do Brasil registrou lucro líquido de R$ 1,226 bilhão no quarto trimestre de 2021, alta de 33,8% na comparação anual e melhor resultado trimestral desde seu IPO (Oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), segundo a companhia.
No acumulado de 2021, o BB Seguridade acumulou lucro líquido de R$ 3,933 bilhões, alta de 1,4% frente a 2020.
As ações refletiram o bom resultado, liderando as altas do Ibovespa. Os papéis ON (BBSE3) subiram 5,74%.
Em relatório, analistas do BTG Pactual avaliaram o balanço como positivo, sendo impulsionado pelo “sólido” desempenho operacional e resultado financeiro do BrasilPrev.
Os analistas Eduardo Rosman, Thiago Paura e Ricardo Buchpiguel também destacaram as expectativas da holding para 2022, apontando para um forte crescimento nos resultados à frente.
“A BBSeg sofre por ser subsidiária do Banco do Brasil, deixando os investidores com maior percepção de risco das ações. Mas com a normalização dos sinistros relacionados à Covid e da inflação do IGP-M, juntamente com uma taxa Selic mais alta, podemos ver uma forte recuperação no resultado em 2022”, escreveram em relatório.
O banco tem recomendação neutra para o papel, com o preço-alvo de R$ 26.
Bolsas no exterior
As bolsas americanas operavam com sinais contrários, em pregão marcado pela volatilidade. O índice Dow Jones fechou estável. No S&P e em Nasdaq, ocorreram quedas de 0,37% e 0,58%, respectivamente.
Na Europa, as bolsas fecharam com altas. A Bolsa de Londres subiu 0,76% e a de Frankfurt, 0,71%. Em Paris, ocorreu alta de 0,83%.
As bolsas asiáticas fecharam com direções contrárias. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, cedeu 0,70%. A Bolsa de Hong Kong subiu 0,03% e a da China avançou 2,03%, na volta do feriado do Ano Novo Lunar.
fonte: https://oglobo.globo.com/economia/investimentos/dolar-fecha-em-525-menor-patamar-desde-setembro-bolsa-cai-25383511 acessado em 08/02/2022.