Estímulo à economia pode conviver com reformas estruturais, dizem economistas
Após anos de demanda reprimida, é possível conciliar estímulos à economia em um prazo mais curto com reformas estruturais, segundo analistas que participaram ontem em Brasília do evento 25 anos do Real – Os desafios para o Brasil. A avaliação mais difundida foi que é necessário perseverar na agenda reformista, já que medidas como cortes da taxa básica de juros não resolverão os problemas mais amplos da economia brasileira. No entanto, algum impulso à atividade pode ajudar a recuperação neste momento.
“Não há inconsistência” entre medidas de curto prazo e reformas estruturais, disse Claudio Adilson, diretor-presidente da MCM Consultores. “Isso [adoção de medidas de curto prazo] é falado no governo, mas com um certo nojo. É sujeito que se veste de liberal irrestrito.”
Nos cálculos da MCM, o hiato do produto (diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial, uma medida de ociosidade da economia) está em 6%. Esse hiato, de acordo com Adilson, é compatível com uma inflação de 3%, abaixo, portanto, da meta estabelecida para os próximos anos.
Ele destacou também que o desemprego está na casa dos 12%, no cálculo livre de fatores sazonais, e que o número de horas trabalhadas por semana por trabalhador, está 4% abaixo da mediana histórica. Tudo isso, segundo ele, indica que o país está “com uma forte depressão da demanda”, que exige medidas como cortes de juros e liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Adilson pediu também um avanço “mais célere” dos programas de infraestrutura, que teriam efeito mais “imediato de estimular a construção civil” e consequentemente o mercado de trabalho e a cadeia de insumos. “É algo ao mesmo tempo conjuntural e estrutural”, disse.
Para Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, as discussões entre estímulos de curto prazo e reformas estruturais “são complementares”. “A queda dos juros não resolverá os problemas do Brasil’, disse. Mas o país, segundo ele, passa por um momento de contração fiscal, com a implantação do teto de gastos e crescimento menor do crédito público. Ao mesmo tempo, falta segurança política e segurança jurídica para que o setor privado aumente seus investimentos. O economista destacou que Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, já chamaram a atenção para os impactos da contração fiscal sobre a atividade.
Ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Persio Arida reconheceu a fraqueza da demanda, mas preferiu destacar a importância de “criar um clima propício para investimentos”, com a realizações de reformas como a tributária e maior abertura da economia.
“A questão não é crescer 2% ou 2,5%, mas como saltar e crescer 4%”, disse. Para ele, é preciso perseverar na agenda reformista, que teria impacto
maior sobre o crescimento de longo prazo. O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, “demorou 20 anos para sair”. “É um
ritmo muito mais lento do que deveria ser”, disse. Arida defendeu a aprovação da reforma da Previdência, mas afirmou que foi criada a ideia de que as
mudanças no sistema de aposentadoria são “tudo ou nada”, o que acaba travando a recuperação da economia. “É melhor esperar para ver”, disse.
Já o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, afirmou que o governo federal quer que “alguns estímulos
mais imediatos” impulsionem a atividade enquanto “transcorrem as reformas fundamentais”.
Ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Persio Arida reconheceu a fraqueza da demanda, mas preferiu destacar a importância de “criar um clima propício para investimentos”, com a realizações de reformas como a tributária e maior abertura da economia.
“A questão não é crescer 2% ou 2,5%, mas como saltar e crescer 4%”, disse. Para ele, é preciso perseverar na agenda reformista, que teria impacto maior sobre o crescimento de longo prazo. O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, “demorou 20 anos para sair”. “É um ritmo muito mais lento do que deveria ser”, disse. Arida defendeu a aprovação da reforma da Previdência, mas afirmou que foi criada a ideia de que as mudanças no sistema de aposentadoria são “tudo ou nada”, o que acaba travando a recuperação da economia. “É melhor esperar para ver”, disse.
Já o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, afirmou que o governo federal quer que “alguns estímulos mais imediatos” impulsionem a atividade enquanto “transcorrem as reformas fundamentais”.
“É uma estratégia de alguns estímulos para recuperação maior do setor privado”, disse. “A agenda estrutural pode ser reforçada com uma agenda conjuntural.” Ele garantiu, no entanto, que o que está sendo proposto é diferente dos “estímulos pelo lado da demanda” feitos durante os governos petistas. “Daí é voo de galinha.”
De acordo com o presidente do Ipea, os estímulos virão da política monetária, do crédito e da redução dos depósitos compulsórios. Von Doellinger citou, por exemplo, alterações já anunciadas do crédito rural concedido pelo Banco do Brasil (BB). Ele não se estendeu sobre possíveis outras medidas.
Na semana passada, o Banco Central (BC) anunciou a redução da alíquota sobre depósitos compulsórios a prazo, com impacto previsto de R$ 16,1 bilhões. Posteriormente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que “vêm aí mais de R$ 100 bilhões de compulsórios ali na frente”. Logo em seguida, o BC divulgou comunicado em que dizia que “a redução estrutural” dos depósitos compulsórios é uma ação ainda “em curso, sem definições de prazos ou montantes”.
Fonte: www.valor.com.br
Link: https://www.valor.com.br/brasil/6327983/estimulo-economia-pode-conviver-com-reformas-estruturais-dizem-economistas. Acessado em: 02 Julho 2019, 08:12:35.