Inflação surpreende e mercado vê chance de BC acelerar ritmo de alta da Selic
Para algumas casas, a pressão para que o Copom promova um aumento de 2 pontos percentuais é crescente
Por Victor Rezende e Felipe Saturnino, Valor
Diante de uma surpresa relevante no IPCA de outubro, cresceu no mercado a sensação de urgência quanto a uma resposta ainda mais forte do Banco Central para conter as pressões inflacionárias. Embora o dia seja de alívio nos juros de longo prazo, o mercado precifica chance considerável de uma elevação superior a 1,50 ponto percentual na Selic em dezembro e, para algumas casas, a pressão para que o Copom promova um aumento de 2 pontos percentuais é crescente.
Pela precificação da curva de juros, por volta de 15h, há aproximadamente 70% de chance de uma elevação de 2 pontos percentuais na Selic e 30% de possibilidade de uma alta de 1,75 ponto, quando apenas essas opções são consideradas. No mercado de opções digitais, na B3, cuja liquidez é reduzida nesta tarde, a probabilidade de uma elevação de 1,50 ponto ainda é majoritária e está em 56%, mas as chances de uma alta de 2 pontos aumentaram e estão em 25%.
Gestor do Opportunity Total, Marcos Mollica observa que o IPCA de outubro veio “significativamente acima do consenso dos economistas, com surpresas espalhadas por vários componentes”. As medidas de núcleo, que continuaram pressionadas, também foram citadas pelo profissional, para quem há uma persistência maior dos choques inflacionários. “Acreditamos que cresce a pressão para o Copom acelerar mais uma vez o ciclo de altas de juros, possivelmente para 200 pontos-base já na próxima reunião e na reunião subsequente, para fechar o ciclo com a Selic em 11,75%”, diz.
Uma elevação de 2 pontos na Selic já em dezembro se tornou cenário-base de algumas casas, como a CM Capital Markets, para quem esse nível já se tornou “piso”. “O Banco Central terá de realizar um ajuste dessa magnitude para dar um choque de credibilidade, evitando questionamentos e prejuízos à sua imagem e reputação ante o mercado”, aponta a economista-chefe da CM, Carla Argenta. Para ela, a divulgação do IPCA de outubro pode provocar um novo descolamento das expectativas de inflação de 2022 no Boletim Focus, o que motiva a expectativa de alta de 2 pontos nos juros.
“O Focus deve mostrar uma inflação para o ano que vem perto do teto ou acima dele. É um cenário muito ruim para o BC”, diz a economista. A CM espera que a Selic termine este ano em 9,75% e que chegue a 12,75% no fim do ciclo, que se daria ainda no primeiro trimestre de 2022.
O Barclays foi uma das casas que alterou suas expectativas para a inflação. Em relatório enviado a clientes, o economista-chefe para Brasil do banco britânico, Roberto Secemski, elevou sua projeção para o IPCA deste ano de 9,5% para 10% e aumentou a estimativa para a inflação de 2022 de 4,3% para 4,6%, além de esperar um caminho ainda maior para a taxa Selic.
De acordo com Secemski, em uma suposição de que a PEC dos Precatórios seja aprovada no estado em que está hoje e em tempo hábil, “o nervosismo do mercado pode acabar diminuindo, removendo parte da pressão sobre o BC para conter os danos causados à credibilidade fiscal”. Apesar disso, o economista acredita que a continuidade das surpresas inflacionárias e a desancoragem das expectativas em curso exigirão “vigilância” do Copom. Assim, o Barclays espera uma elevação de ao menos 1,50 ponto na Selic em dezembro, seguida de duas altas de 1 ponto em fevereiro e em março, o que levaria o juro básico a 11,25% no fim do ciclo.
fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/11/10/inflao-surpreende-e-mercado-v-chance-de-bc-acelerar-ritmo-de-alta-da-selic.ghtml acessado em 11/11/2021.