Maioria projeta alta da Selic para 2,5%
Levantamento mostra maior dispersão de estimativas para fim do ano
Por Victor Rezende e Marcelo Osakabe
Se depender da aposta majoritária dos analistas ligados ao mercado, a taxa básica de juros abandonará a mínima histórica de 2% e será elevada em 0,50 ponto percentual na reunião de semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Em levantamento do Valor com 87 instituições financeiras e consultorias, a elevação da Selic para 2,5% é defendida por 76 casas. Outras sete acreditam em uma alta mais modesta, de 0,25 ponto percentual, enquanto duas projetam a manutenção do juro básico no nível atual. Outras duas instituições têm, em seu cenário básico, um aumento mais agressivo da Selic na próxima semana, de 0,75 ponto.
Como justificativa para o início do processo de aperto monetário – o primeiro desde julho de 2015 -, analistas apontam para o aumento dos riscos fiscais; câmbio mais depreciado que o esperado; piora do ambiente externo para emergentes; e a deterioração das expectativas de inflação.
Divulgado ontem, o IPCA de fevereiro surpreendeu ao mostrar um resultado acima do teto das estimativas do mercado e promoveu diversas revisões para cima do índice neste ano. No acumulado em 12 meses, o IPCA ficou em 5,20%, o que configura uma surpresa inflacionária de 0,77 ponto percentual em relação às projeções do Banco Central reveladas no Relatório de Inflação (RI) de dezembro.
“O quadro está mais complexo para o BC. O cenário alternativo indica que ele deveria começar com um movimento mais robusto. Uma elevação mais modesta parece arriscada no atual contexto e teria chances de acabar sendo contraproducente”, afirma o economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, Claudio Ferraz.
O profissional diz ser possível que o Copom comece a elevar o juro básico em 0,50 ponto, mas, em sua comunicação, deixe algum espaço para uma aceleração do ritmo nas próximas reuniões. “A depender do tamanho do ciclo, pode fazer sentido acelerar mais à frente”, diz. O BTG espera quatro altas de 0,50 ponto e um ajuste mais gradual posteriormente, mas enfatiza que o viés é de alta em suas estimativas. “Há uma clara tendência de ser mais, e não menos”, diz.
Ao lembrar que, em janeiro, o Copom indicou que pretende retirar o grau extraordinário dos estímulos, o economista-chefe da Itaú Asset Management, Diogo Guillen, contempla em seu cenário básico quatro elevações de 0,50 ponto na Selic a partir deste mês. “Ao chegar a 4%, o Copom deve começar a tatear outras questões, como a dinâmica de atividade, hiato do produto, a taxa neutra e a conversão das expectativas de inflação para a meta”, afirma o profissional.
Em sua avaliação, o maior receio do BC está na possibilidade de as expectativas deste ano contaminarem as de 2022. Atualmente, a mediana dos economistas do Focus aponta para o IPCA em 3,5% no ano que vem. A Itaú Asset, porém, trabalha com um cenário em que a inflação deve ficar ligeiramente acima do centro da meta, em 3,7%. Para este ano, a projeção da gestora é de 5,1%.
Além disso, Guillen ressalta que, embora a inflação de fevereiro tenha aumentado a possibilidade de o BC dar início ao ciclo com uma alta mais agressiva, o colegiado deve optar por uma elevação de 0,50 ponto somada a uma indicação de possibilidade de aceleração do ritmo de aperto no futuro.
Nos preços do mercado, porém, tem ganhado força a chance de uma alta mais forte. No fechamento de ontem, a curva de juros indicava 83% de possibilidade de uma elevação de 0,75 ponto na taxa básica na semana que vem. Para o fim do ano, o mercado já embute nos preços uma Selic acima de 5,5%. No levantamento do Valor, o ponto médio das estimativas é de 4,5% para a Selic no fim deste ano, acima do nível observado no Focus (4%).
A economista Elisa Machado, da ARX Investimentos, defende um início mais agressivo do ciclo diante da deterioração das expectativas de inflação. “Por uma questão de inércia, a inflação mais alta neste ano vai começar a contaminar as expectativas, mas tudo isso vai depender da atuação do BC”, afirma a profissional, cujo cenário básico contempla o IPCA em 5,2% e a Selic em 6% no fim deste ano.
Além da inflação corrente, ela nota que já há alguma contaminação nas inflações implícitas, taxas extraídas das NTN-Bs, que estão acima de 5% em alguns prazos. “Temos uma característica de desancoragem que recomenda uma atitude mais forte do BC. Além disso, temos visto o câmbio em um nível bem alto, que fez até mesmo o BC mudar a forma de atuar.”
Os economistas Carlos Pedroso e Maurício Nakahodo, do MUFG Brasil, enfatizam, inclusive, que “uma elevação de juros mais moderada que o esperado, ou mesmo a manutenção em 2%, poderia ocasionar o efeito indesejado de desvalorizar o real, alimentando pressões inflacionárias e também podendo inclinar a curva de juros, dado que o mercado poderia interpretar um menor compromisso para coordenar as expectativas”.
Nesse sentido, o MUFG trabalha com um aumento de 0,50 ponto neste mês. Para os economistas, o receio de desaceleração da economia “pode ser um fator limitante” do processo de aperto, “mas com a pressão do câmbio, as diversas rodadas de reajuste de combustíveis e a grande incerteza no front fiscal, entendemos que o BC irá iniciar a elevação dos juros ao ritmo de 0,50 ponto por reunião”.
Na outra extremidade da tabela, o economista-chefe para América Latina e Caribe da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, diz ser “inevitável” uma alta de pelo menos 0,25 ponto na próxima reunião. Ele destaca que “o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem tentado frear expectativas de mercado sobre um início mais agressivo da normalização”.
O profissional afirma ainda que a aprovação da PEC Emergencial pelo Congresso “dá à autoridade monetária algum espaço de manobra, mesmo que sua potência tenha sido diluída ao longo das negociações”. No entanto, após um início de normalização mais gradual do que o próprio mercado espera, Wood entende que o Copom será forçado a elevar a dose nas próximas reuniões para assegurar que as expectativas de inflação não desancorem do centro da meta.
fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/03/12/maioria-projeta-alta-da-selic-para-25.ghtml acessado em 12/03/2021.