Recuperação de crédito deve dobrar em 2022
Gestora MGC prevê que ofertas de novas carteiras de empréstimos não pagos vão alcançar R$ 2 bi
Por Sérgio Tauhata
O ano passado marcou uma virada de patamar no mercado de recuperação de crédito. “Houve um aumento gigantesco de ofertas de novas carteiras no mercado, o dobro de 2020”, explica o sócio-diretor da MGC, Eduardo Martins. De acordo com o executivo, “tínhamos tradicionalmente um mercado de R$ 500 milhões ao ano de novas carteiras ofertadas e, em 2021, bateu a casa do bilhão”. Para este ano, o sócio da gestora vê potencial de o tamanho das novas safras de crédito estressado dobrar novamente para cerca de R$ 2 bilhões.
Conforme Martins, as fintechs têm estado muito ativas na oferta de carteiras estressadas, o que traz diversos novos ofertantes para o setor. “Vimos no fim de 2021, entre novembro e dezembro, ofertas de carteiras de dívidas novas vindas da pandemia”, afirma. “Em 2022, não tem como segurar e os bancos vão ter de limpar os balanços, com isso o mercado deve ser bastante generoso na oferta de carteiras”, acrescenta o sócio da MGC.
Os prazos das novas safras de crédito estressado, afirma Martins, estão ficando mais curtos. “Tem sido mais frequente a oferta de portfólios com empréstimos vencidos e não pagos há 90 dias. Até pouco tempo atrás, as carteiras ofertadas tinham vários anos. Os integrantes do mercado de crédito, no entanto, têm preferido limpar balanços, o que libera mais capital para novas operações, além de se beneficiar da maior eficiência na recuperação com uso de canais digitais.”
O crescimento do mercado acabou coincidindo com o avanço da própria gestora, que mudou de patamar com a aquisição da operação brasileira da canadense Credigy, líder do setor de recuperação de dívidas no Brasil, no início dos anos 2000. Pouco mais de um ano depois da incorporação, a MGC consolidou-se no terceiro lugar no ranking. O feito é significativo porque a casa independente concorre com companhias controladas por grandes bancos, como a Ativos, do Banco do Brasil, e a Recovery, do Itaú Unibanco.
A MGC atualmente tem cerca de R$ 24 bilhões em carteiras sob gestão e pretende alcançar R$ 30 bilhões neste ano. Segundo o sócio-diretor Eduardo Martins, a incorporação da Credigy, a partir de novembro de 2020, impulsionou o próprio patamar da casa brasileira. “Antes éramos a quinta maior do setor”, pondera.
Nas contas da gestora independente, as duas maiores recuperadoras do mercado são a Ativos, do BB, com uma carteira de R$ 100 bilhões, seguida da Recovery, do Itaú, com R$ 75 bilhões. Depois da MGC, a quarta posição, aponta Martins, é a Return, incorporada pelo Santander em janeiro de 2020. Em quinto está a RCB, comprada pelo Bradesco em 2018. Entre as seis maiores figura ainda a também independente Hoepers.
A MGC atua por meio de recuperação do chamado “crédito estressado” – os empréstimos inadimplentes que, muitas vezes, as instituições financeiras lançam como perdas em seus balanços. A gestão dessas operações é feita por meio de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), que adquirem carteiras do gênero com bancos, fintechs e outras empresas, e oferecem aos devedores a possibilidade de quitar as dívidas com descontos que podem alcançar até 90%.
“O ano passado foi um período importante para nós, porque o processo de incorporação de uma adquirida é sempre delicado e dedicamos metade de 2021 a essa função”, afirma o executivo. “Mesmo num ano em que a gente esteve dedicado a esse processo, conseguimos comprar no FIDC da Credigy quase R$ 1 bilhão de novas carteiras do sistema financeiro, além daquelas que herdamos.”
De acordo com o sócio da MGC, como resultado, a gestora obteve um faturamento 130% superior no fim de 2021, quando comparado a dezembro de 2020. “A gente conseguiu mais que duplicar as receitas com as carteiras adquiridas e existentes”, diz. “No caso dos portfólios da Credigy, conseguimos aumentar 120%.” Uma das apostas da MGC, conforme Martins, vem do processo de negociação digital com os devedores.
“100% do processo de cobrança ainda era físico na Credigy, concentrado em ‘call centers’, o que demandava mão de obra muito grande”, conta.
Agora a maior parte da recuperação do crédito surge por meio do acesso ao site e aplicativo da MGC. “A gente provoca os devedores por SMS, redes sociais, e-mail, convidando os devedores a visitar os canais digitais e usar as ferramentas de autonegociação. A maior parte fica desconfortável em fazer a negociação por telefone, então os canais digitais ajudam muito a concretizar um plano de pagamento.”
De acordo com Martins, “chegamos no fim de 2021 com 70% das negociações feitas na nossa base em redes digitais e 30% apenas no call center”. Pela experiência da MGC, os mais jovens querem acessar um aplicativo ou site móvel e resolver o problema sem contato com ninguém.
fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/01/14/recuperacao-de-credito-deve-dobrar-em-2022.ghtml acessado em 14/01/2022.