Setor de serviços cresce pelo quinto mês seguido, mas não recupera perdas da pandemia
Alta foi de 1,7% em outubro, segundo dados do IBGE. No acumulado de 12 meses, queda de 6,8% é a maior da série
Por Raphaela Ribas
O setor de serviços, considerado o motor do PIB brasileiro, cresceu 1,7% em outubro, na comparação com setembro, segundo divulgou hoje o IBGE. É a quinta alta seguida, mas ainda insuficiente para compensar as perdas da pandemia.
O resultado veio acima das expectativas de analistas ouvidos pela Reuters, que projetavam 1% de avanço. Mas o setor acumula queda de 6,8% em 12 meses, a maior retração desde o início da série histórica, em dezembro de 2012, para esse indicador.
— Mesmo com cinco meses, esse saldo positivo é ainda insuficiente para serviços chegar ao patamar pré-pandemia de fevereiro de 2020. Precisa crescer ainda 6,5% para chegar a este patamar. O serviço tem a característica de ser muito presencial e, com isso, foi muito afetado — avalia o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Este movimento de melhora mensal mas que não cobre o patamar de fevereiro é visto também nos segmentos, em especial nos de transportes e de turismo, o que deve levar 2020 a encerrar o ano com o pior acumulado do ano da série histórica.
Segundo Lobo, diante do cenário de um repique da pandemia, volta do isolamento social em algumas cidades e limitação de atendimento em estabelecimentos, é difícil uma recuperação positiva no ano:
— Tudo isso nos faz acreditar que serviços não vai ter reviravolta até o fim do ano e terá o acumulado mais intenso da série histórica de serviços. Para o setor fechar 2020 no campo positivo, teria que ter taxas estratosféricas de crescimento nos meses de novembro e dezembro, o que é impensável.
O patamar atual de atividade do setor de serviços é próximo ao de maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros que derrubou os serviços prestados no país. Lobo explica que o setor de serviços está mais baixo deste período, porém, há dois anos, a recuperação foi rápida e percebida já no mês seguinte.
— Agora, é diferente. Não se recupera da mesma velocidade. Alguns estabelecimentos ainda não se recuperam, os presenciais demoram mais. Isso tudo traz recuperação mais lenta para o setor.
Serviços incluem restaurantes e hotéis, por exemplo, negócios que foram muito afetados pelas regras de isolamento. Das três grandes áreas da economia, serviços é a única que ainda não retornou ao nível pré-pandemia e apresenta mais dificuldade do que outros segmentos da economia para se recuperar.
Indústria e comércio já têm desempenho melhor que o do período anterior ao avanço da Covid-19. Na quinta-feira, o IBGE mostrou que as vendas no varejo surpreenderam em outubro e cresceram pelo sexto mês seguido.
Em relação a outubro de 2019, o setor recuou 7,4%, registrando a oitava taxa negativa seguida nessa comparação.
Alta puxada por uso da internet
Na comparação com setembro, quatro das cinco atividades pesquisadas cresceram, com destaque para Informação e comunicação (2,6%). Apenas o setor de Outros serviços (-3,5%) registrou taxa negativa. Ainda assim, esse último é o que tem apresentado melhor desempenho nos últimos meses.
Dentro de Informação e comunicação, o segmento de Tecnologia da Informação demonstra dinamismo e recuperação, sendo um dos poucos com resultado positivo no acumulado do ano.
Lobo explica que o resultado se deve porque Informação e comunicação tem o maior peso, de 34,5% no total de serviços, e foi puxado pelo aumento do uso da internet e serviços digitais, os quais cresceram na pandemia, uma vez que as pessoas estão recorrendo mais a canais virtuais.
Um outro setor que vinha bastante prejudicado pela pandemia, especialmente entre março e abril, com menos pessoas circulando, e está conseguindo se recuperar é o de Transportes. Embora também não tenha atingido ainda o nível de fevereiro último, subiu pelo sexto mês consecutivo.
Na mesma situação de melhora mensal, mas sem recuperação pré-pandemia estão os serviços prestados às famílias, que acumulam ganho de 80,4% nos últimos seis meses. Apesar da alta expressiva, este segmento responde por apenas 6,8% do total de serviços na pesquisa.
Revisão de dados
O IBGE revisou os dados do setor de serviços de junho e de setembro. Ambos tiveram altas superiores às divulgadas anteriormente. Em junho, o crescimento foi de 5,5%, e não de 5,3%, enquanto o de setembro passou de 1,8% para 2,1%.
fonte: oglobo.globo.com
https://oglobo.globo.com/economia/setor-de-servicos-cresce-pelo-quinto-mes-seguido-mas-nao-recupera-perdas-da-pandemia-1-24792228 acessado em 11 de Dezembro de 2020