Volatilidade do real volta a destoar de pares

Volatilidade do real volta a destoar de pares

Por Marcelo Osakabe, Valor

O início de ano conturbado para o mercado de câmbio brasileiro fez a volatilidade histórica do real voltar a operar em níveis não vistos desde meados do ano passado, quando as preocupações relativas à pandemia levaram a moeda brasileira a se aproximar dos R$ 6,00. Apesar disso, a volatilidade implícita da moeda — que mede o risco de variação do ativo nas próximas semanas — está em patamares baixos, não vistos desde o pico da crise da covid-19, sinal de que participantes de mercado continuam a enxergar potencial de melhora à frente.

Na última sexta-feira, a volatilidade histórica de um mês da moeda brasileira contra o dólar chegou a 21,98%, uma melhora em relação aos 22,48% vistos uma semana antes — a maior desde julho do ano passado. Ainda assim, ela continua bem superior a de pares como o peso mexicano (11,77%), rand sulafricano (11,41%), rublo russo (8,60%) e lira turca (7,62%).

Por outro lado, a volatilidade implícita de um mês do real caiu a 17,40%, após tocar 21,22% semanas atrás. “Desde o início da implícita não operava abaixo de 18%”, nota Nuno Martins, chefe de estruturação de derivativos do Bank of America (BofA) no Brasil. O profissional ressalta que a melhora deste indicador foi generalizada para todas as demais divisas, à medida em que o mundo caminha na direção da vacinação e da reabertura. No entanto, a moeda brasileira tem sido beneficiada adicionalmente por outro fator, em sua opinião.

“A eleição de candidatos alinhados ao governo nas casas do Congresso parece ter gerado um ambiente político melhor para a aprovação da reformas, um ambiente de maior alinhamento e governabilidade”, diz ele.

O início do ano tem sido marcado por incertezas para os investidores de câmbio no Brasil. Uma das teses mais difundidas do fim de 2020, a narrativa do dólar fraco no mundo, ficou balançada pela expectativa de um estímulo fiscal mais robusto nos Estados Unidos, após a vitória democrata no Senado. Por sua vez, os mercados revivem o trade da reflação, ou a recuperação mais forte da atividade e inflação no país, que obrigaria o Federal Reserve a retirar estímulos mais cedo que o atualmente previsto.

No Brasil, pesa adicionalmente a dúvida sobre em que momento se dará o início do ciclo de normalização da política monetária. Embora as pressões inflacionárias continuem presentes, a economia já começa a dar sinais de desaceleração, o que deixa o mercado em dúvida sobre o que o Banco Central vai priorizar nos próximos encontros. Tudo isso em meio a um início conturbado da vacinação no país e também a discussão sobre uma nova rodada do auxílio emergencial, que retoma as incertezas sobre a trajetória fiscal no curto prazo.

No entanto, ao mesmo tempo em que houve certa quebra de expectativa em relação à alta dos juros básicos já em março — como parecia dado logo após a divulgação da ata da reunião de janeiro —, também ocorreu uma volta das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, o que limita, até certo ponto, o potencial das flutuações . “O mercado sempre trabalha com o teto psicológico da atuação mais recente, então tem respeitado o nível dos R$ 5,42 em que se deu as últimas atuações”, afirma Italo Abucater dos Santos, gerente de câmbio da Tullett Prebon.

“No nosso entender, a volatilidade melhorou um pouco após o BC ser um pouco mais ativo e o próprio presidente falar que o câmbio está alto”, diz Fabricio Taschetto, sócio-fundador da ACE Capital. “Na nossa avaliação, o Banco Central vai vender moeda caso o dólar suba.”

Para Martins, do BofA, o real deve ter espaço para apreciação no médio prazo, após resolvida a questão do auxílio emergencial. “Se nada muito diferente vier, a nossa cabeça é positiva para o real. Tem muito prêmio no câmbio”, nota o profissional.

Por outro lado, ele é cético sobre se a alta da Selic até o fim do ano será capaz de melhorar o padrão de volatilidade da moeda, bem como contribuir para sua apreciação — ambas as coisas costumam andar juntas. “Só o tempo vai dizer. O viés de uma elevação dos juros é positivo. Ainda assim, é possível que o efeito seja menos significativo do que se espera. O mercado tem projetado uma Selic perto de 4,0% no fim do ano e isso apenas leva o juro real para perto de zero. Continua não tendo “carry”, diz. “Nesse sentido, acredito que essa questão seja menos representativa do que, por exemplo, a agenda política e a visibilidade fiscal.”

Santos, da Tullett Prebon, nota que a sazonalidade é outro fator que joga na definição da volatilidade ao longo do ano. “Esse cenário é positivo até maio, quando existe um fluxo de dólares chegando ao Brasil por causa da safra de grãos, mas fica mais difícil quando os capitais começam a deixar o país no segundo semestre”, lembra. “Mas também é preciso ficar de olho na aceleração da inflação e nas altas de juros, assim como no timing das atuações do Banco Central.”

fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/02/17/volatilidade-do-real-volta-a-destoar-de-pares.ghtml  acessado em 18/02/2021.

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