‘Votação da Câmara dá impulso a Guedes’, diz cientista político sobre manutenção do veto de Bolsonaro

‘Votação da Câmara dá impulso a Guedes’, diz cientista político sobre manutenção do veto de Bolsonaro

Para Leonardo Barreto, derrota no Senado mostra que Palácio do Planalto terá que criar uma estratégia política mais orgânica para aprovar novas reformas

Por Bruno Rosa

A manutenção do veto ao reajuste dos servidores pelo plenário da Câmara marca uma nova fase para o governo de Jair Bolsonaro. A partir de agora, o Palácio do Planalto terá que criar uma estratégia política mais orgânica, se quiser aprovar novas reformas, como a administrativa e a tributária.

Para ele, o resultado da votação dá impulso ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que ainda terá que superar entraves para levar sua agenda adiante. A avaliação é de Leonardo Barreto, cientista político, doutor pela UnB e diretor da Vector Análise.

Como o senhor analisa a decisão da Câmara?

Houve a formalização da aliança de centro-direita. Foi um abraço bem apertado. Foi um evento simbólico que marca essa coalização. Você teve uma Câmara que votou pautada para dois públicos. Falou para o mercado. Vários lideres levantaram a questão do dólar, da queda na Bolsa, sustentaram o teto de gastos e a necessidade da responsabilidade fiscal. E uma outra parte da Câmara também falou para o presidente Jair Bolsonaro. Mas não podemos ignorar que o Senado tem o perfil mais populista. Esse casamento do governo com o centrão se dá na Câmara. Os senadores estão muito ligados a governadores, têm uma configuração mais hostil ao governo.

A derrota no Senado revelou falta de articulação do Palácio
do Planalto?

O governo talvez não tenha prestado atenção às pressões dos senadores. Talvez o governo tenha minimizado os riscos, pois o veto pegou a todos da equipe econômica de surpresa. Não podemos esquecer que o secretário de governo, Luiz Eduardo Ramos, sequer estava em Brasília. O governo teve tempo para correr e jogar seu peso em cima da Câmara. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Há um problema de articulação do governo.

A derrota no Senado vai levar o governo a rever sua estratégia para avançar com as reformas?

Até aqui o governo demonstrou não ter estratégia alguma. Essa coalizão foi inaugurada na prática hoje (ontem). Pela primeira vez, se falou em punir senadores que foram contra a votação. Acho que, a partir de agora, o governo começa a trabalhar profissionalmente, com mapa de voto e com intermediação de interesses. Antes, o governo sequer fazia isso. A Previdência foi uma agenda que o Congresso encampou. Agora, a gente fala da construção de uma estratégia. E o governo inaugura uma nova fase, fortalecido na Câmara. Além disso, há dois fatores importantes: temos um presidente que surfa uma onda de popularidade. E temos uma Câmara de centro-direita. Conforme o presidente recupera popularidade, os partidos passam a vê-lo como alternativa para as próximas eleições.

Como esse veto ao reajuste dos servidores pode afetar a popularidade do presidente?

A popularidade é circunstancial e tem nome e sobrenome. Chama-se auxílio emergencial. E quando isso acabar terá 8,9 milhões de desempregados e um Estado sem capacidade de ajudar. Ou seja, é uma popularidade ilusória e ligada a um beneficio que é insustentável. E, para isso ser mantido, vai exigir que essa base na Câmara aprove a criação de novos impostos. E isso pode vir com aperto sobre o funcionalismo, com governos tendo que cortar salários. Todo mundo vai sair com conta no vermelho. É um cenário dramático, e uma recuperação incerta.

A decisão da Câmara pode fortalecer o ministro Paulo Guedes diante da ala pró-gasto?

Semana passada, todo aquele barulho foi esquisito, pois o governo tem recorde de popularidade com um programa da equipe econômica, que é o auxílio emergencial. E isso vem ajudando a amenizar o desastre na condução da crise sanitária. A votação da Câmara dá impulso ao ministro Paulo Guedes. Quando essas coisas acontecem, a gente vê oportunidades e é possível dar um salto. Mas o ministro vive uma crise de liderança, tendo dificuldade em gerenciar a área administrativa da pasta.

Fonte: https://www.oglobo.globo.com/

Link: https://oglobo.globo.com/economia/votacao-da-camara-da-impulso-guedes-diz-cientista-politico-sobre-manutencao-do-veto-de-bolsonaro-1-24598369 . Acessado em: 21 Agosto 2020, 10:14:01.

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